Apla-Mina de ouro verde mal explorada - Entrevista com Flávio Castelar
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Mina de ouro verde mal explorada - Entrevista com Flávio Castelar

 Referência mundial na agroindústria canavieira, o Brasil tem o maior e mais bem sucedido programa de substituição de combustível fóssil por renovável do mundo, além de poder oferecer uma alternativa na produção de energia. Mas o setor sucroenergético está sendo subutilizado, diz o diretor executivo do Apla


Durante a 3ª edição do Su­gar & Ethanol Summit - Bra­zil Day, que acontece dia 18 de julho, em Londres, UK, o diretor executivo do Arranjo Produtivo Lo­cal do Álcool (Apla), Flávio Castelar, terá como missão ressaltar o poten­cial das empresas e entidades bra­sileiras ligadas ao setor sucroener­gético, mostrando o que elas têm a oferecer, como soluções completas para produção e processamento da cana-de-açúcar, para produção de açúcar, etanol e energia elétrica.

“Alguns países, como Fran­ça, Inglaterra, Espanha, Índia, Tailân­dia e Japão concorrem com o Bra­sil, em parte, na área industrial. Mas o diferencial nacional é na área agrí­cola, pois o Brasil é o único País que possui empresas que fabricam li­nhas exclusivas dedicadas à cana­-de-açúcar”, afirma Castelar.

Durante sua permanência no Reino Unido, o diretor executivo da Apla participará de reuniões com empresas e entidades locais ligadas ao setor canavieiro, com a expecta­tiva de buscar acordos de coopera­ção técnicos e comerciais.


Energia Business - Quais os prin­cipais aspectos a serem aborda­dos em sua apresentação na 3ª edição do Sugar & Ethanol Sum­mit - Brazil Day?
Flávio Castelar - Vamos mostrar todo o potencial que as empresas e entidades ligadas ao cluster têm em ofertar soluções completas para produção e processamento da ca­na-de-açúcar, para produção de açúcar, etanol, energia elétrica, etc. e também como as políticas públi­cas aliadas à iniciativa privada po­dem trazer resultados positivos para toda a cadeia produtiva.

EB - Qual a importância desta con­ferência e qual é sua expectativa?
Castelar - Esta conferência faz par­te de um conjunto de ações e es­tratégias de médio e longo prazos do nosso cluster. O evento vem a complementar uma ação realizada em São Paulo, organizada pelo Rei­no Unido, e que contou com nos­so apoio. Teremos uma agenda para a semana que antecede a conferên­cia em Londres, com empresas e en­tidades ligadas ao setor do Reino Unido, que devem resultar em acor­dos de cooperação técnicos e co­merciais. Sendo assim, temos gran­des expectativas para este evento.

EB - O cenário de açúcar e etanol mundial está passando por mu­danças decisivas que afetam toda cadeia de valor do setor. Dian­te deste fato, quais são as pers­pectivas de médio prazo para os produtos?
Castelar - Sim, muitos países per­ceberam que a cana-de-açúcar não é somente açúcar. Há muitas ou­tras oportunidades contidas nesta planta fantástica e este cenário co­meça a mudar quando as empresas passam a produzir etanol e energia elétrica. Vários países estão cami­nhando para implantar projetos in­tegrados de produção e nós vamos ter a oportunidade de fornecer tec­nologia, máquinas e equipamentos para estas demandas.

EB - O Brasil é considerado o ce­leiro tecnológico do setor sucro­energético. Quais foram os prin­cipiais marcos que colocaram o País no atual estágio, como refe­rência mundial?
Castelar - O Brasil é uma referên­cia mundial, já que temos o maior e mais bem sucedido programa de substituição de combustível fóssil por renovável do mundo. O início do Proálcool, em 1975, foi um dos marcos importantes para o começo deste programa. Este apoio do go­verno no desenvolvimento de tec­nologias para o setor foi muito im­portante. De lá para os dias de hoje, o programa se consolidou e, atual­mente, temos resultados que com­provam seu sucesso. A questão do carro Flex foi outro marco impor­tante que consolidou o programa e trouxe uma escala que não conse­guimos antes. Hoje temos 14 mon­tadoras que fabricam mais de 100 modelos de carros flex.

EB - Qual é a principal missão do APLA?
Castelar – Nossa missão é tornar o cluster uma referência mundial no desenvolvimento e aplicação de tec­nologia agroindustrial para biorrefi­narias de cana-de-açúcar e ajudar a consolidar a inovação, o desenvol­vimento tecnológico agroindustrial dos integrantes do Apla para pro­dução e comercialização de biorre­finarias de cana-de-açúcar.

EB - Quais são os atuais mecanis­mos de incentivo à exportação de tecnologia brasileira para regiões em desenvolvimento?
Castelar - Os principais mecanismos de incentivo que o Apla usa hoje é o projeto “Brazil Sugarcane Bioenergy Solution”, programa que conta com o apoio da Apex-Brasil, cujo objeti­vo é promover nossas tecnologias no exterior e o Parque Tecnológico Piracicaba de Bionergia - coopera­ção entre o Apla, Prefeitura Munici­pal de Piracicaba e Governo do Esta­do de São Paulo. Contamos também com o apoio do BNDES e do Itama­raty em nossas ações no exterior.

EB - Atualmente quais países competem com o Brasil nas áreas industrial e agrícola?
Castelar - Na área industrial temos alguns concorrentes como França, Inglaterra, Espanha, Índia, Tailândia, Japão, entre outros. Mas eles não conseguem ofertar a solução com­pleta, concorrem com partes e não com o todo. Já na área agrícola o Brasil é o único País que possui em­presas que fabricam linhas exclusi­vas dedicadas à cana-de-açúcar, as­sim conseguimos certa facilidade em comercializar nossos equipa­mentos e máquinas no exterior.

EB - Quais as principais ações re­alizadas ano passado pelo Projeto Brazil Sugarcane Bioenergy Solu­tion? Qual o balanço destas ações e quais missões deverão aconte­cer ainda em 2014?
Castelar - Em 2013, o Projeto reali­zou rodadas de negócios no México, Guatemala, Cuba, São Paulo e Ribei­rão Preto. Além disso, realizamos missão comercial no Sudão e fomos responsáveis pela organização do ISSCT Congress, em São Paulo. Nas rodadas de negócios realizadas no Brasil recebemos compradores vin­dos de países como África do Sul, Argentina, Bolívia, Colômbia, Cos­ta Rica, Cuba, Guatemala, Quênia e Peru. De modo geral, foi um ano muito produtivo no qual consegui­mos gerar muitas oportunidades de negócios e alcançar objetivos pro­jetados promovendo produtos, má­quinas, equipamentos, tecnologia e soluções brasileiras para fomentar a cadeia produtiva da cana-de-açúcar em diversos países do mundo. Este ano, dia 18 de julho participaremos da 3ª Sugar & Ethanol Summit em Londres. Em agosto, realizaremos rodadas de negócios na Fenasucro, em Sertãozinho, SP. Em outubro, na 4ª Rodada de Negócios Apla/Data­gro. Já em setembro, faremos roda­das de negócios na África do Sul.

EB - O Apla e a Apex-Brasil coor­denaram as visitas dos participan­tes internacionais na 28ª edição do Congresso da ISSCT (Interna­tional Society of Sugar Cane Te­chnologists), ano passado. Quais foram os pontos que mais cha­maram atenção dos estrangeiros? Qual a importância de demons­trar o estado da arte da tecnolo­gia brasileira?
Castelar - Nós tivemos a honra de ajudar a Sociedade dos Técnicos Açucareiros e Alcooleiros do Bra­sil (STAB), sob o comando do pre­sidente José Paulo Stupiello, a con­seguir que o Brasil fosse escolhido para sediar este importante even­to do setor sucroenergético. O Apla foi convidado a ser o coordenador da Mostra Tecnológica, que ocorreu durante a 28ª edição do Congres­so da ISSCT. Organizamos também o pós-evento, onde tivemos a opor­tunidade de levar mais de 120 téc­nicos e pesquisadores estrangeiros a visitar e conhecer nossas tecno­logias e capacidade industrial, fato muito importante já que estes téc­nicos e pesquisadores levaram de volta para seus países uma excelen­te impressão do nosso potencial. Os principais pontos que eles destaca­ram foram o tamanho das nossas fábricas e as tecnologias envolvidas na fabricação dos nossos equipa­mentos. Foi uma grande oportuni­dade de consolidar nossa lideran­ça na produção de tecnologias para cana-de-açúcar. (,,,)

EB - Como o Senhor vê o interes­se britânico de estreitar relações com brasileiros no âmbito do de­senvolvimento de tecnologias para o setor sucroenergético, ma­nifestados durante a Conferência de Biocombustíveis 2014, realiza­da em junho no Centro Brasileiro Britânico, em São Paulo?
Castelar - Nós vemos com bons olhos esta aproximação e interes­se do Reino Unido em Biocombus­tíveis e a importância que eles vêm no Brasil neste cenário. Nas apre­sentações feitas pelo lado britâni­co durante o último evento em São Paulo, ficou clara a intenção em tra­balhar em conjunto e também apa­receram várias áreas onde podemos cooperar, inclusive já temos agen­dada uma reunião em Londres com o BSBEC UK – Centro de Sustentabi­lidade de Bioenergia do Reino Uni­do - para tratar de estabelecer co­operações para nossas empresas e institutos de pesquisas.

Energia Business - Quais são os atuais mercados promissores para o setor sucroenergético?
Flávio Castelar:
Países na América Latina como um todo e com desta­que para Colômbia, Guatemala, Peru e México, o sul e o norte da África onde destacam países como Quê­nia, Etiópia, Sudão, África do Sul, Mo­çambique, Tanzânia, Zâmbia, etc. e na Ásia, Tailândia, Indonésia, Filipinas e Vietnã.

Energia Business - Na sua opinião, quais são os pontos positivos e ne­gativos do modelo brasileiro de gestão do setor sucroenergético?
Flávio Castelar: Positivos são mui­tos, com destaque para alguns pon­tos importantes do nosso modelo e da cana-de-açúcar como matéria­-prima, escalabilidade da produção, mercado e domínio da tecnologia. Negativo é que ainda alguns paí­ses produtores de cana não se de­ram conta do grande potencial e das oportunidades que envolvem a ca­na-de-açúcar, pois estão produzindo somente açúcar.

Energia Business - Fatores climá­ticos e falta de investimentos im­pactarão a safra brasileira no ciclo 14/15. Qual a sua expectativa para esta safra e qual é a diretriz para se conseguir melhorar a produtivida­de do setor sem aumentar o custo da produção?
Flávio Castelar:
Sim, o clima vai im­pactar com certeza a safra 2014/2015 e ainda temos reflexo da falta de in­vestimentos nos canaviais, embo­ra alguns investimentos foram feitos nos últimos dois anos, com apoio do governo, são insuficientes para co­brir a demanda. O caminho é inves­tir em tecnologia, principalmente no que diz aos novos processos na área agrícola e também na indústria como o etanol de segunda geração e cal­deiras mais eficientes, e assim tornar o setor cada vez mais competitivo e sustentável.

Energia Business - Na sua opinião quais são as perspectivas em re­lação à bioeletricidade a partir da biomassa no Brasil da forma como está estabelecido o mercado atualmente?
Flávio Castelar:
É um mercado mui­to atrativo e o bagaço pode ser uma alternativa na produção de energia e contribuir para minimizar este apa­gão energético que o Brasil esta pas­sando, já que temos a capacidade de produzir energia na época de seca quando os reservatórios estão em baixa. Temos grandes oportunidades e também grandes desafios. O gover­no tem que tratar as bioenergias de forma diferente e também buscar fa­zer leilões regionais, aproveitando o que cada região tem de potencial a oferecer. No passado, o Brasil teve oportunidade de fazer contratos com o setor pagando quatro vezes menos do que está pagando hoje pela ener­gia. Falta política pública adequada e planejamento, pois temos que tratar a questão energética com mais res­ponsabilidade. Também existe a pos­sibilidade de exportar combustível sólido (como paletes e briquetes de bagaço) para países que querem di­minuir o uso de carvão e outros com­bustíveis sólidos não renováveis e poluentes.


“No passado, o Brasil teve oportunidade de fazer contratos com o setor sucroenergético pagando quatro vezes menos do que está pagando hoje de energia. Falta política pública adequada e planejamento, pois temos que tratar a questão energética com mais responsabilidade”



Fonte: Energia Business